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As PNF são fruto da imaginação?

A resposta é simples: Não!

Muitas vezes os doentes com sintomas neurológicos funcionais e dissociativos sentem que ninguém acredita neles. Isto acontece em parte porque poucos médicos têm conhecimentos sobre sintomas físicos que não se devem a uma doença e porque a investigação nesta área é também escassa.

Alguns médicos de facto não acreditam que os doentes tenham esses sintomas mas outros acreditam e estão verdadeiramente dispostos a ajudar.

Se os sintomas de facto existem mas não há uma doença, de que se trata afinal? Será que está a imaginar?

A resposta é que você não está a imaginar ou a inventar os seus sintomas e também não está a enlouquecer. Você tem sintomas funcionais / dissociativos.

Compreender esta situação pode levar tempo. Você não tem uma doença, mas também não está a imaginar.

Os pontos seguintes poderão ajudá-lo.

•O exemplo da enxaqueca. A comparação dos seus sintomas com os de uma enxaqueca pode ajudar. Esta é uma situação comum em que as análises e os exames de imagem cerebral são normais mas existem vários tipos de sintomas neurológicos como ver pontos brilhantes, sensação de formigueiro numa metade do corpo ou mesmo perda de força nos membros. Na enxaqueca sabe-se um pouco mais sobre que partes do cérebro funcionam mal e quais os neurónios que estão a disparar de forma anormal, mas ainda assim é um diagnóstico que se baseia na sua história.

Quando alguém está hipnotizado isso é “da sua mente” ou um “estadio cerebral alterado”? Muitas pessoas são suscetíveis de serem hipnotizadas. Todos já vimos pessoas na TV a serem hipnotizadas, não estando em pleno controlo dos seus pensamentos ou comportamentos. Não é necessário estar psicologicamente debilitado para se ser hipnotizado. É um transe hipnótico, um estadio cerebral alterado ou um estadio da mente? A resposta pode ser qualquer uma delas. Para sermos mais exatos, a pergunta é que está errada. De igual forma, quando as pessoas têm sintomas funcionais ou dissociativos não faz sentido perguntar se está tudo na mente. A mente e o cérebro são igualmente importantes.

Porque é que podemos admitir sem problema que uma pessoa com esclerose múltipla está deprimida? Muitos doentes com doenças neurológicas ficam deprimidos e ansiosos. A dor, incapacidade, incerteza quanto ao futuro, a mudança no emprego e nas relações podem contribuir. O que é interessante é que, habitualmente, quem tem o diagnóstico de esclerose múltipla tem maior facilidade em dizer que se está a sentir em baixo ou preocupado. Uma vez que ninguém questiona a sua doença neurológica, não há problema em admitir tal situação – as pessoas são muitas vezes empáticas.

Muitas pessoas com sintomas funcionais NÃO estão deprimidas ou ansiosas. Mas se estiverem, isso pode ser difícil de contar às pessoas. Por exemplo, quando alguém tem falta de força funcional com dor e fadiga, várias razões podem impedi-la de transmitir que se sente preocupada ou em baixo:

 – as pessoas nunca ouviram falar da sua situação e por isso vão questionar se é “real”

 – receio que os médicos atribuam todos os sintomas a ansiedade e depressão

 – devido à variabilidade dos sintomas, os doentes com “dias bons” podem pensar que por vezes estão a imaginar os sintomas (mesmo quando não se sentem bem).

Há quem invente estes sintomas?

A resposta a esta pergunta é sem dúvida (e infelizmente) sim, mas isso parece ser raro. Nos últimos anos, mais casos de pessoas que obtiveram benefícios fraudolentos se tornaram públicos.

Por exemplo, um homem foi filamdo a jogar futebol quando ele dizia andar de cadeira de rodas. Outro foi filmado a levantar caixas pesadas quando ele afirmava não poder carregar nada.

Em outro caso, um homem que afirmava ser cego e fora indemnizado pelo dano, foi preso por circular a alta velocidade numa auto-estrada.

Quando os doentes que estão a simular são examinados, eles podem ter alguns dos sinais positivos que os doentes com sintomas funcionais têm mas há diferenças importantes.

Eles tendem a contar histórias muito inconsistentes (porque também estão a inventá-las). Eles não têm o mesmo tipo de história clínica que os doentes que genuinamente vivem os sintomas e pode haver uma situação legal ou outra razão óbvia para os sintomas (embora isto não signifique que qualquer pessoa com situações legais invente os seus sintomas).

Há também algumas pessoas que fingem os seus sintomas para ter acesso a um hospital ou ser operado. Quando isto acontece denomina-se distúrbio factícioso, e de um modo geral, é também raro. É considerado uma alteração do comportamento como a auto-mutilação deliberada.

Portanto, por vezes as pessoas fingem os sintomas e isso pode ser difícil de dizer. Alguns médicos (e por vezes os doentes) cometem um grande erro ao pensar que a maioria dos doentes com sintomas funcionais está a fingir.

Alguns doentes com sintomas funcionais percebem que os seus sintomas aparecem e desaparecem de uma forma estranha. Isso pode levá-los a perguntar-se se estão a provocá-los. Isto é um sentimento comum e não significa que os estejam a provocar.

Por que parece que as outras pessoas e os profissionais de saúde não levam os meus sintomas a sério?

Se visitou este sítio para auto-ajuda, este é um ponto importante. De forma compreensível os doente não querem ter um diagnóstico que possa ser confundido com simulação de doença. Explicámos acima que essa situação é rara mas, não obstante, alguns profissionais de saúde estão eles próprios confusos em relação aos doentes com sintomas funcionais e podem ter uma atitude menos correta em relação aos seus sintomas.

Na realidade, a maioria dos profissionais de saúde tem uma atitude positiva face aos seus sintomas mas têm dificuldade em comunicá-la. Os doentes podem sentir-se ofendidos pelos profissionais de saúde mesmo quando eles acreditam no problema e estão a tentar ajudar.

Que outros nomes são usados para descrever esses sintomas?

Ao longo dos anos foram atribuídos vários nomes aos sintomas neurológicos funcionais e dissociativos.

Muitos desses rótulos são “psiquiátricos” e baseiam-se na ideia de que os sintomas estão “todos na mente”.

Muitas vezes há fatores psicológicos relacionados com os sintomas neurológicos funcionais e dissociativos, mas os sintomas não são fingidos. Muitos especialistas acreditam que esses sintomas estão na interface entre o cérebro e a mente, entre a neurologia e a psiquiatria, e é por isso que é difícil responder quando as pessoas (e doentes) perguntam “é neurológico ou psicológico?” A evidência sugere que se trata de ambas e que na realidade esta questão não faz sentido dado o que sabemos sobre o modo de funcionamento das vias do movimento e das emoções no cérebro.

Esta lista pode não ser fácil de ler e, ainda que possa ser perturbador ver alguns dos termos, pode ajudá-lo a saber mais sobre eles.

Distúrbio conversivo – é um termo popularizado por Sigmund Freud e usado na classificação americana de distúrbios psiquiátricos (DSM-IV). Diz respeito à ideia de que os doentes estão a “converter” as suas preocupações mentais em sintomas físicos. Distúrbio coversivo refere-se a sintomas de falta de força muscular, perturbações do movimento, sintomas sensitivos e crises não-epiléticos. O princípio da “conversão” é algo que se pode aplicar a uma pequena minoria de doentes, mas existe pouca evidência experimental desse princípio para a maioria deles (habitualmente quanto mais graves são os sintomas, mais angustiado está o doente). Na próxima revisão da classificação psiquiátrica (DSM-V) o termo poderá ser alterado para distúrbio com sintomas neurológicos funcionais e a necessidade de um evento psicologicamente stressante relacionado com os sintomas será provavelmente eliminado.

Distúrbio Dissociativo – é como os sintomas são descritos na Classificação Internacional de Doenças. Veja a página dissociação para mais informação.

Não-Orgânico – é um termo que os médicos usam para os sintomas que não se devem a uma doença identificavel. Isso implica que o problema seja puramente psicológico.

Psicogénico – é um termo frequentemente usado para descrever estes sintomas, especialmente crises epiléticas dissociativas e distúrbios do movimento. Mais uma vez implica que o problema seja puramente psicológico.

Psicossomático – passou a significar o mesmo que psicogénico apesar de o seu significado original pretender descrever o modo como o corpo afeta a amente bem como o processo pisopatológico que afeta o corpo.

Somatização – sugere que a pessoa tem sintomas físicos que se devem à angústia mental. O argumento aqui é semelhante ao do “distúrbio conversivo”. O distúrbio de somatização descreve a situação em que a pessoa tem um grande historial de sintomas físicos que não se devem a doença.

Histeria – é um termo utilizado desde há cerca de 2000 anos. Significa “útero errante” e vem da ideia da Grécia Antiga de que as mulheres que tinham sintomas físicos tinham um problema com o seu útero que viajava por todo o corpo. Nos séculos 18 e 19 era usado para descrever os sintomas físicos não explicados por doença. No século 20 o seu uso foi restringido para sintomas neurológicos e atualmente é raramente utilizado.

Os doentes com sintomas funcionais e dissociativos tiveram muitas vezes tratamentos injustos por parte dos médicos ao longos dos últimos 100 anos. Tradicionalmente, os neurologistas tinham um papel que se limitava ao diagnóstico do doente e seu encaminhamento para um psiquiatra para tratamento.

Muitos neurologistas adquiriram uma visão muito pobre deste tipo de problemas ao longo dos anos. Existe uma tendência entre alguns neurologistas de ver estes sintomas com suspeição. Outros neurologistas são empáticos mas não se vêem eles próprios com capacidade de lidar com o problema. Alguns neurologistas tiram conclusões indevidas sobre problemas psiquiátricos ou traumáticos prévios que podem ser completamente inúteis. Os doentes habitualmente apercebem-se disso, o que pode em parte explicar por que razão muitas vezes não acreditam no diagnóstico que lhes é transmitido.

A maioria dos psiquiatras, a não ser que trabalhem de perto com neurologistas, também se sentem inseguros na abordagem de sintomas funcionais e dissociativos e muitas vezes questionam se não estará por detrás por doença neurológica. Discuti em outras partes deste website como os psicólogos e psiquiatras podem ser úteis nestas doenças mesmo que não exista depressão ou ansiedade. Os psiquiatras de ligação / consultores em psicologia médica têm formação específica nesta área e compreenderão essas doenças.

Os doentes com sintomas funcionais referenciados a psiquiatras sentem muitas vezes que o médico apenas diz que está “tudo na mente”. Compreensivelmente eles podem ser defensivos ao falar com um psiquiatra pelo que a consulta pode acabar por ser inútil.

Como consequência de todos estes fatores, os doentes com sintomas funcionais e dissociativos viram-se muitas vezes “cair pelas lacunas” da medicina.

Reinventar a roda nos distúrbios “nervosos” funcionais

Há 100 anos atrás os neurologistas e psiquiatras tinham a visão de que estes sintomas eram primariamente um problema com o funcionamento do sistema nervoso e que embora os fatores psicológicos fossem importantes eles podiam estar ausentes e não eram o único fator importante.

Os neurologistas estavam interessados no diagnóstico e tratamento do problema e escreveram livros sobre “distúrbios nervosos funcionais” com muito de senso comum. A roda está finalmente a voltar a esse ponto de vista.

No meu ponto de vista, muitas das dificuldades nesta área podiam ser superados se os profissionais de saúde fossem mais instruídios sobre o diagnóstico e tratamento destas doenças.

Pode ler um artigo de revisão escrito para médicos clicando neste link.

Lembre-se, os seus sintomas são reais, mesmo que o façam sentir que não são!