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Tratmento das crises dissociativas/não-epiléticas

Considerando as crises dissociativas como algo comum, é algo chocante que haja tão poucas opções terapêuticas para estes pacientes.

Mas nos últimos anos tem havido alguns progressos nesta área. Esta secção é baseada nestas descobertas, mas também na própria experiência dos autores em tentar ajudar centenas de pacientes com essas crises a melhorar.

Se ainda não as leu, leia as seguintes secções antes de avançar:

1. Convulsões / crises não epiléticas

É muito importante entender que este tipo de crise é comum, não significa que esteja a ficar maluco, não resulta em ferimentos físicos graves e é potencialmente reversível sem medicação.

2.  Compreender o diagnóstico

É essencial a confiança no seu médico.

3. Psicologia? Não estou maluco

Leia esta secção para compreender por que razão o seu médico poderá ter sugerido uma ida ao psicólogo.

A maioria dos pacientes com crises não-epiléticas ou dissociativas tem um sintoma de aviso antes das suas crises – não sempre, e muitas vezes são apenas breves durando apenas alguns segundos.

Alguns pacientes têm um sintoma de aviso, mas não se conseguem recordar após a crise. Às vezes, um amigo ou parente poderá lembrar-se, mesmo que o paciente não o consiga.

Alguns pacientes nunca têm um sintoma de aviso.

Mas aprender a reconhecer os sintomas de alerta, pode ser um fator-chave para aprender a controlar essas crises.

Durante a crise, está a perder o controlo do seu corpo. O objetivo do tratamento é encontrar estratégias para o ajudar a recuperar o controlo.

Um estudo feito em Londres em pacientes com crises dissociativas mostrou recentemente que tipo de sintomas se podem ter nesta fase de alerta. Os autores compararam pacientes com crises dissociativas com pacientes com crises epilépticas. Sintomas como dor no peito, coração acelerado, falta de ar, sudorese, dormência ou formigueir, ou uma sensação de “enlouquecer” eram muito comuns antes das crises em pacientes com convulsões dissociativas.

Estes são todos os sintomas correspondentes a uma descarga de adrenalina e são também observados nos ataques de pânico. Revelam que o sistema nervoso entrou num estado de “alerta vermelho”.

Tabela 1. Pacientes com crises dissociativas frequentemente apresentam sintomas que sugerem que estão em estado de “alerta vermelho” antes da crise (de John Mellers e Laura Goldstein. Sintomas de comportamento evasivo e dissociação em pacientes com crises dissociativas. Neurology, Neurosurgery, and Psychiatry 2006; 77: 616-621)

O mesmo estudo também mostrou que os pacientes com crises dissociativas tinham uma probabilidade muito maior de desenvolver medo de sair sozinhos ou estar num lugar com multidões ou onde a fuga pudesse ser difícil. Muitas vezes isso acontece porque os pacientes temem a sensação de desconforto/vulnerabilidade ou a confusão potencialmente geradas por uma crise.

Os pacientes com crises dissociativas também se sentem às vezes preocupados com as consequências destas. “Talvez depois eu não possa recuperar?”, “Talvez eu vá ficar incapacitado, ou ‘fora do meu controlo’ de alguma forma”.

Às vezes, a crise dissociativa é a maneira do seu corpo de “se livrar” das sensações horríveis que se experienciam durante a fase de alerta. Não é que esteja deliberadamente perdendo a consciência mas, pelo menos, termina os sintomas de alerta e às vezes é assim que um padrão de crises se estabelece.

Então, poderá estar a perguntar-se, como é que tudo isto ajuda?

Se aprender a reconhecer os seus sintomas de alerta, mesmo que estes durem apenas alguns segundos, poderá, com o tempo, aprender como os controlar o suficiente para evitar uma crise, recuperando assim o controlo da situação.

Leia a próxima página para saber mais.

1. Não se assuste! – surgem pensamentos assustadores quando recebe esses sintomas?

Estes podem ser alguns dos pensamentos

“eu vou magoar-me?”

“isto será muito embaraçoso?”

“Isto é epilepsia?”

“Posso morrer durante a crise?”

Há respostas para todas estas perguntas que não são tão más quanto se possa pensar

“eu vou magoar-me?” …………………………………….. Possivelmente, contusões podem ser comuns e, ocasionalmente, os pacientes podem fraturar um osso, embora isso seja raro. Os médicos que trabalham nesta área habitualmente não vêem pacientes com lesões fatais. Parte de si está consciente durante a crise, mas não consegue lembrar-se disso depois. Isto parece prevenir lesões sérias. Nos bebés isso não pode não estar garantido e, em particular, um número muito pequeno de pacientes parece autoagredir-se  durante os crises sem se aperceber.

“isto será muito embaraçoso?” ……………………. Talvez um pouco, mas valerá realmente a pena evitar todas as coisas que gosta de fazer por causa disso?

“Isto é epilepsia?” …………………………………….. ….. Não – se não tem certeza por que não perguntar ao seu médico

“Posso morrer durante uma crise?” ……………………….. Não – isso nunca aconteceu

2. Tente distrair-se

Os sintomas de aviso podem tornar difícil a concentração noutra coisa. Naqueles poucos segundos antes de uma crise, os seus pensamentos podem ser subjugados pelas sensações físicas que está a sentir.

Se conseguir aprender a concentrar-se noutra coisa ou a distrair-se, isso pode ajudar. Por exemplo

uma técnica poderá ser

a. contar para trás de 100 a 0 em setes, “100,93, 86, 79” ou quatro “100,96,92 etc”

b. Pegue uma revista e comece a ler

c. Fale com alguém

d. Tente jogar um jogo no telemóvel ou outro dispositivo

e. Tente cantar uma música favorita

Esses são os tipos de técnicas que um psicólogo o poderá ensinar. Estas também são usadas para ajudar as pessoas a superar os ataques de pânico. Ataques de pânico e crises dissociativas não são a mesma coisa. Mas geralmente têm muito em comum.

Sensory Grounding é outra técnica (ver abaixo na figura).

Espreite a página Ansiedade e Pânico deste site para mais informações.

3. Faça com que as outras pessoas se acalmem

Um problema pode ser o facto das pessoas em seu redor ficam alarmadas em relação a si enquanto tem uma crise. Também para eles poderá ser benéfica a leitura deste site. Mesmo que não se consiga lembrar da crise, parte de si está consciente durante a crise. Se as pessoas em seu redor estiverem alarmadas, isso vai piorar a situação.

As pessoas em seu redor devem: Manter a calma, prestar apoio, certificarem-se que ter espaço ao seu redor, não colocar nada nar sua boca, espere que a crise termine e encorajá-lo(a) a acordar depois. Poderá até ser capaz de continuar a tarefa que estava a realizar, no trabalho ou na faculdade, por exemplo.

As coisas que indicam que está a progredir com estas técnicas incluem:

1. Começa a ter mais sintomas de aviso. Muitas vezes as pessoas têm mais avisos quando as crises começam. À medida que elas continuam, os avisos podem ficar mais curtos até cessarem. Às vezes as pessoas recebem avisos mas esquecem-se devido à crise. Familiares ou amigos podem notá-lo um pouco vazio ou cansado, mais do que o habitual. À medida que aprende mais sobre as crises, é possível tomar conhecimento de uma fase de alerta da qual não tivesse consciência anteriormente.

2. Reconhece os sintomas de alerta, mas fica menos alarmado quando estes surgem. Compreender o seu diagnóstico, compreender o que é a dissociação e os sintomas de ‘luta ou fuga’ podem ter o efeito de reduzir o seu alarme geral em relação à situação

3. Os seus sintomas de alerta passaram a ser mais longos. Este é um dos objetivos do tratamento. Quanto mais tempo puder tolerar os sintomas de alerta sem perder a consciência, mais perto estará de os controlar

4. Já começou a evitar alguns dos episódios. Ao aprender a distrair-se ou a ficar menos alarmado com os sintomas, poderá descobrir que só tem o sintoma de alerta e não a crise.

5. Você passou a estar consciente durante toda a crise. Isso pode ser assustador para pacientes que geralmente ficavam inconscientes ou com amnésia para uma crise. Mas se isso acontecer consigo, mostra que está a começar a ter mais consciência dos episódios e é mais um passo na direção certa.

Os pacientes com crises dissociativas ficam muitas vezes confusos com o carácter aparentemente aleatório dos seus ataques.

Muitas vezes estes são completamente aleatórios, mas às vezes são menos aleatórios do que possa imagina. As situações mais comuns nas quais as crises dissociativas ocorrem são

1. Sentado ou deitado em repouso, sem estar ocupado. Nesse estado de repouso, o seu corpo fica muito mais vulnerável a uma crise. O seu cérebro não está focado ou distraído com outras coisas. É mais fácil estar ciente de sensações físicas como respiração, batimentos cardíacos ou tonturas.

2. Em situações com muitas pessoas/ locais onde a fuga é difícil. Mesmo que não esteja conscientemente a pensar nisso, alguns pacientes com crises dissociativas terão maior probabilidade de ter uma em situações nas quais as consequências da crise serão mais acentuadas. Muitas vezes, isso ocorre num shopping ou cinema, por exemplo, e é mais embaraçoso do que ter uma crise em casa. Quanto mais antecipar a possibilidade de uma crise ataque e as suas consequências adversas, mais provável é que isso aconteça.

3. desencadeada por pensamentos e memórias. Alguns pacientes com crises dissociativas podem aperceber-se que as suas crises são desencadeadas por memórias ou pensamentos desagradáveis.

4. Em situações médicas. Geralmente na sala de espera ou na sala de consulta. Isso parece ser por causa da expectativa de ter que falar sobre as crises com um médico e simplesmente pensar sobre isso.

Quando está sob stress, por exemplo, durante uma discussão ou a correr para chegar a algum lugar, o seu cérebro está frequentemente distraído demais para que a crise ocorre. É por isso que as crises dissociativas geralmente não ocorrem quando as pessoas estão stressadas com outra coisa.

Aprender a atuar perante sintomas de aviso …